Romper com a apatia, construir o futuro: Um chamado à unidade pra lutar
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Romper com a apatia, construir o futuro: Um chamado à unidade pra lutar

Conjuntura Vivemos um momento histórico em que grandes mobilizações estudantis e juvenis estão sacudindo o mundo. Da Indonésia ao Nepal, do Peru ao Quênia, da Palestina às universidades brasileiras, a juventude tem se colocado como protagonista de lutas que ultrapassam fronteiras movida por crises econômicas profundas, desigualdades estruturais e pela sensação de que o futuro […]

Juntos RS 16 out 2025, 16:16

Conjuntura

Vivemos um momento histórico em que grandes mobilizações estudantis e juvenis estão sacudindo o mundo. Da Indonésia ao Nepal, do Peru ao Quênia, da Palestina às universidades brasileiras, a juventude tem se colocado como protagonista de lutas que ultrapassam fronteiras movida por crises econômicas profundas, desigualdades estruturais e pela sensação de que o futuro foi sequestrado por governos e elites que não falam mais em nome da maioria.

A chamada “Revolta da Geração Z” não é apenas um rótulo geracional. É um sintoma global, um grito coletivo diante do esgotamento de um sistema que promete inclusão, mas entrega precarização; que vende liberdade, mas produz endividamento e desesperança. É o alerta de que a normalidade anterior a da desigualdade e da apatia não pode mais ser restaurada.

Em meio ao avanço da extrema direita e à ofensiva autoritária do Estado de Israel sobre o povo palestino, a juventude cumpre um papel decisivo: o de reconstruir, nas ruas e nas universidades, a unidade internacionalista necessária para enfrentar o imperialismo e as novas expressões do fascismo global. A solidariedade à Palestina é parte desse processo: quando a juventude se levanta contra o apartheid e o genocídio, afirma que a vida de um povo vale mais que qualquer iniciativa imperialista para acabar com um povo.

Aqui na UFRGS, reconhecemos que muitos dos problemas que afligem os estudantes: desemprego, precarização, desigualdade e falta de perspectivas são reflexos diretos da crise global do capitalismo. Vivemos o esgotamento de um modelo que transforma a universidade em um espaço de competição individual, que mede mérito sem medir condições e que empurra milhares de estudantes ao limite entre o sonho e a desistência.

Por isso, é urgente construir alternativas na universidade, na cidade e no país que rompam com o limite do silêncio e da apatia. É hora de assumir a rebeldia como ponto de partida para reimaginar a educação, a democracia e as relações de poder. A Geração Z já disse: “não nos bastam pequenas reformas ou promessas vazias”. É preciso retomar o método das mobilizações, reconstruir um sentido comum entre o que acontece no Brasil e no mundo e avançar.

UFRGS

A UFRGS vive uma crise que não é apenas institucional ou administrativa, é uma crise de projeto. Desde 2022, é possível observar uma mudança profunda no perfil dos estudantes e na própria dinâmica da vida universitária. O pós-pandemia não significou apenas o retorno às aulas presenciais; significou também uma ruptura com a tradição política e cultural do movimento estudantil da universidade.

Ainda que tenhamos acumulado vitórias importantes, como a destituição e a paridade nas eleições, essas conquistas vieram sem o peso da mobilização estudantil, sem o sentimento de pertencimento e luta que sempre caracterizaram a história da UFRGS.

As eleições para a reitoria simbolizaram esse novo momento. De um lado, um processo eleitoral paritário e sem a presença explícita da extrema direita. De outro, a submissão a uma política econômica que ameaça diretamente o futuro das universidades públicas. O Arcabouço Fiscal, apresentado pelo Governo Federal como uma suposta solução de “responsabilidade”, na prática representa o congelamento de investimentos, a compressão dos orçamentos e a limitação estrutural da expansão universitária.

Essa política, ao atrelar o orçamento da educação às metas do mercado financeiro, impõe às universidades o dilema da escassez: cortar bolsas, reduzir assistência estudantil e precarizar serviços. Na UFRGS, isso se expressa no cotidiano nas matrículas provisórias, na falta de estrutura nos prédios, nos cortes da Casa do Estudante e na sobrecarga dos servidores técnicos e docentes.

É o reflexo de uma lógica que transforma a universidade pública em um espaço de sobrevivência, e não de emancipação. Por isso, o enfrentamento ao arcabouço não pode ser um gesto simbólico: precisa ser uma luta concreta, que una estudantes, técnicos e professores em defesa da autonomia e do caráter público da UFRGS.

Mas o que vimos foi o contrário. A vitória da chapa Márcia Barbosa e Pedro Costa que representam o governismo consolidou um cenário de acomodação. Uma reitoria que não se dispõe a enfrentar a política econômica do governo e um movimento estudantil que, diante disso, mergulhou em dúvidas: “por que lutar, se nossos inimigos já foram derrotados?”

ME

Mesmo com acertos pontuais na última gestão do DCE, o resultado eleitoral expressou essa apatia. A disputa se resumiu a um embate entre o governismo, fortalecido pelas vitórias de 2022 e da reitoria, contra o setor independente do ME, em uma campanha marcada por debates rebaixados, que se limitavam às pautas sindicais e sem horizonte político. O que se perdeu foi justamente o essencial: o papel do DCE e do movimento estudantil frente à conjuntura.

Desde então, vemos um DCE hegemonizado pela UJS, Levante, Afronte, JPT, JPL e JSPDT, que se sustenta sobre essa paralisia, priorizando a institucionalidade e o diálogo com a reitoria em detrimento da mobilização de base. Foram apenas dois Conselhos de Entidades de Base, nenhuma plenária geral e nenhuma assembleia estudantil em toda a gestão, enquanto os problemas se acumulam.

Essa aposta cega na institucionalidade é antipedagógica e desmobilizadora. O DCE deixou de ser uma entidade de luta, de formação política e de articulação do movimento, para se tornar uma secretaria informal da reitoria.

Romper com a apatia na UFRGS exige reconstruir o método e o espírito do movimento estudantil: mobilização, radicalidade e programa. Não basta criticar é preciso apresentar uma saída.

Sabemos que sozinhos não construiremos esse novo momento. É preciso ampliar o diálogo com as organizações da esquerda e os coletivos independentes, para formar um pólo antifascista, anticapitalista e internacionalista que una CAs, coletivos e estudantes em torno da luta.

As dificuldades são muitas, mas as vitórias recentes apontam o caminho. A 1ª Jornada de Lutas pela Palestina, com o acampamento e as atividades na UFRGS, mostrou o potencial da unidade entre os setores combativos. Foi essa mobilização que arrancou conquistas históricas: a moção de ruptura da UFRGS com Israel e a moção de solidariedade à Global Sumud Flotilha, ambas aprovadas mesmo contra a resistência do conservadorismo no Conselho Universitário.

Essas vitórias nos lembram: a juventude é capaz de mudar os rumos da universidade e do mundo.

As próximas eleições do DCE não podem ser apenas uma disputa de chapas. Precisam ser o momento de um grande debate político sobre o papel da universidade e do movimento estudantil frente à crise.

Um chamado à unidade

Queremos fazer dessa eleição uma oportunidade para reorganizar a esquerda e reconstruir o protagonismo estudantil na UFRGS. Chamamos Correnteza, Alicerce, Ocupe!, UJC, Rebeldia e Faísca a uma discussão profunda sobre um programa comum, que recoloque o DCE a serviço da luta, e não da burocracia.

Nosso horizonte é claro: radicalizar a democracia, reconstruir um movimento estudantil combativo, independente e internacionalista. Queremos uma universidade que não apenas resista mas que sirva à classe trabalhadora e aponte para um futuro de ruptura com este sistema.

Nosso programa não nasce de uma sala fechada, nem da necessidade de se acomodar por cargos. Ele nasce da indignação! Da insatisfação com o presente e do desejo de futuro. Do entendimento de que a UFRGS precisa escolher: ser uma universidade viva, crítica e socialmente comprometida ou se adaptar à lógica da precarização e da indiferença.

Sabemos que o futuro da universidade pública está em disputa. Entre a lógica neoliberal que quer gerir o conhecimento como mercadoria e a juventude que insiste em defendê-lo como direito.

Nosso programa

Por isso, o Coletivo Juntos! apresenta um programa para o movimento estudantil e a UFRGS com o sentido público da educação.

  1. Contra o Arcabouço Fiscal e pela Reconstrução da Educação Pública

O Arcabouço Fiscal é o nome técnico de uma velha prática: tirar do povo para agradar os bancos. Ele consolida o teto de gastos, aprofunda o desmonte da assistência estudantil e empurra universidades como a UFRGS à penúria.
Queremos a revogação do Arcabouço e a ampliação imediata dos investimentos públicos em educação, com orçamento garantido para permanência, pesquisa, extensão e infraestrutura. Educação pública não é gasto é condição de soberania.

  1. Assistência Estudantil Universal e Garantia de Permanência

Nenhum estudante deve escolher entre estudar e sobreviver.
Lutamos por assistência estudantil universal, com ampliação das bolsas, valorização do RU, reestruturação das moradias universitárias e garantia de moradia digna para todos, com atenção especial à Casa do Estudante Indígena.

  1. Autonomia e Democracia Real na Universidade

Queremos democratizar de verdade a UFRGS.
É preciso radicalizar a paridade, garantir que todos os conselhos sejam abertos e deliberativos, e que estudantes, técnicos e docentes tenham poder real de decisão.
A reitoria não pode ser um espaço distante e burocrático: deve ser um espaço público de diálogo e transparência. Autonomia universitária não significa neutralidade, significa coragem para enfrentar o governo quando ele ataca o caráter público da universidade.

  1. Por uma Universidade Antirracista, Feminista e Diversa

A universidade ainda reproduz as desigualdades da sociedade. O racismo, o machismo, a LGBTfobia e o elitismo seguem presentes nas salas de aula, nos corredores e nas decisões institucionais.
Defendemos políticas afirmativas sólidas, cotas permanentes, protocolos contra a violência e uma universidade que reconheça as vozes historicamente silenciadas. Por isso queremos a implementação imediata das COTAS TRANS!

  1. Universidade Contra o Fim do Mundo!

A crise climática e a catástrofe ambiental que atinge o planeta não são temas externos à universidade: são o centro do debate sobre o futuro.
A UFRGS deve ser referência em pesquisa ambiental, transição ecológica e tecnologias sustentáveis, mas sempre a serviço do povo e não das corporações. Queremos uma universidade que pense o planeta e que se comprometa com sua preservação.
Educação crítica é aquela que questiona a quem serve o conhecimento, e escolhe servir à humanidade, não ao lucro.

  1. Reconstruir o Movimento Estudantil: DCE Combativo e de Luta

O DCE deve voltar a ser o que sempre foi em seus melhores momentos: um espaço de luta, formação e organização coletiva.
Chega de DCE que apenas reproduz a agenda da reitoria.
Queremos um DCE que chame assembleias, convoque a base, se posicione sem medo, e que seja o motor da mobilização estudantil. Um DCE que una, que forme e que dispute os rumos da universidade a partir da rua, da sala de aula e das ideias.

  1. Internacionalismo e Solidariedade Entre os Povos

A luta da juventude na UFRGS é parte de uma luta maior. Somos parte de uma geração que vê a barbárie crescer, mas escolhe a solidariedade.
Seguiremos sendo voz ativa pela Palestina, pela liberdade dos povos e contra o imperialismo em todas as suas formas.
A universidade pública tem o dever de ser espaço de solidariedade e consciência internacional, um espaço que se levanta quando o mundo silencia.


Imagem O Futuro se Conquista

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