Os punhos erguidos por uma UFPEL livre das amarras do passado escravista
O ambiente universitário não pode mais ser um local onde sejamos constantemente constrangidas pela nossa condição racial, pela nossa condição de gênero. Não aceitaremos mais a inércia da Universidade Federal de Pelotas em apurar e punir os agressores e tampouco vamos nos calar.
Manifesto de repúdio aos atos de racismo e machismo na Universidade Federal de Pelotas
Na manhã do dia 13 de maio de 2015, um grupo de estudantes do curso de Agronomia, mais uma vez, realizou suas festividades de comemoração do ano de formatura em frente à Casa do Estudante da UFPel. Os residentes, perturbados pelo barulho excessivo no início da manhã, solicitaram aos estudantes envolvidos, com razão, para cessarem as atividades que atrapalhavam o cotidiano dos mesmos. A resposta foi um sem fim de agressões morais e físicas, como já ocorrido em outros anos.
Contudo, dessa vez, uma das estudantes residentes ousou desafiar o status quo. Uma mulher, negra, pobre, que exigiu ser respeitada. Exigiu o que é seu por direito. Respeito, paz e sossego. Ao exigir seus direitos foi humilhada. Teve um moletom esfregado no seu rosto por um homem branco que, aos berros, dizia : “sabe ler, neguinha? Aqui tá escrito Agronomia.”
A neguinha em questão não só é conhecedora das letras como também é uma incansável lutadora pelo fim do racismo na sociedade. Corajosa, ainda que dolorida, foi até a delegacia de polícia e registrou os fatos ocorridos.
Escrevemos esta nota para manifestar a nossa indignação perante o racismo exacerbado que ocorre na Universidade Federal de Pelotas nos últimos anos. Essa não é a primeira ocorrência de atitudes racistas envolvendo os estudantes desta intituição. Exigimos uma postura firme por parte da UFPel para que se instaure os procedimentos administrativos necessários à punição dos estudantes envolvidos no caso. Exigimos que não haja silenciamento das mulheres negras que denunciaram esse lamentável episódio, não aceitaremos nenhum tipo de acordo ou de tentativa de abafamento do caso e levaremos ao conhecimento de todas as instâncias competentes o ocorrido.
O racismo tem se manifestado nas instituições superiores de ensino com cada vez mais requintes de crueldade, o silêncio dos responsáveis pela administração das mesmas faz com que se naturalize a prática de atitudes discriminatórias. Não é a primeira denúncia de opressão racial que ocorre nessa instituição e também não é o primeiro caso envolvendo os estudantes do curso de Agronomia. É emblemático que, justo no dia 13 de maio, homens brancos violentem psicologicamente mulheres negras com discursos que remontam ao período escravagista. Não é mais possível compactuar com atitudes como esta na sociedade. O ambiente universitário não pode mais ser um local onde sejamos constantemente constrangidas pela nossa condição racial, pela nossa condição de gênero. Não aceitaremos mais a inércia da Universidade Federal de Pelotas em apurar e punir os agressores e tampouco vamos nos calar. O racismo é responsável pela evasão de muitos estudantes negros e negras das instituições superiores de ensino. Negar a existência do mesmo é um mecanismo que faz apenas com que ele se aprofunde ainda mais.
Por fim, gostaríamos de manifestar que seremos exigentes no acompanhamento dos desdobramentos deste caso, aproveitamos para recomendar a Universidade Federal de Pelotas que inclua no seu currículo, EM TODOS OS CURSOS, em caráter obrigatório, espaços de formação que vislumbrem as relações inter-raciais. Estamos nos insurgindo para construir uma universidade que não seja um espaço de opressões, mas um local onde as diferenças de gênero, classe, e, principalmente, cor, sejam valorizadas e reconhecidas.
Nos gritaram negra. Mais uma vez nos gritaram negra e com isso tentaram nos intimidar, constranger, silenciar. Não nos silenciarão. Ergueremos nossos punhos, em todos os lugares, para garantir que esse caso seja devidamente apurado e que nenhuma estudante negra volte a ser violentada simplesmente por ser quem é.
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