Sobre a eleição para presidência da Câmara e do Senado
O governo garante força parlamentar com o fisiologismo, mas essa vitória é precária e cara
Nessa segunda, os presidentes das duas casas do Congresso Nacional foram eleitos em primeiro turno. Rodrigo Pacheco (DEM) e Arthur Lira (PP) são os novos presidentes do Senado, com 57 votos, e da Câmara, com 302 votos, respectivamente. Os dois, enquanto candidatos de Bolsonaro, possibilitarão o avanço do ajuste fiscal, além de pautas como a federalização das polícias, o excludente de ilicitude e até o voto impresso para colocar suspeitas no sistema eleitoral, como Trump fez em seu ensaio golpista.
É inegável que a eleição de Pacheco e Lira pode fortalecer a extrema-direita bolsonarista e seu projeto de fechamento do regime democrático. Para muitos, com Bolsonaro controlando o corpo legislativo do aparelho de Estado, o impeachment deixa de ser algo viável. Mas não é assim que analisamos a conjuntura.
Compreendemos a política como algo que está sempre em movimento contraditório, devendo a situação ser analisada através das perspectivas, com os conflitos existentes e possíveis. Bolsonaro, apesar de ter sido derrotado nas eleições municipais e estar com uma aprovação de apenas 26%, ganha sobrevida com a sustentação no Congresso. A vitória do governo teve um preço altíssimo: foram cerca de 3 bilhões destinados a 250 deputados e 35 senadores, além da concessão de cargos e até ministérios. O toma lá, da cá vingou. O governo garante força parlamentar com o fisiologismo, mas essa vitória é precária e cara.
O prazo de validade dessa sustentação depende do pagamento de uma fatura contínua, principalmente para a aprovação de legislações controversas. A tendência de agravamento da crise social fará com que o valor da fidelidade aumente. O país está com níveis baixíssimos de vacinação por habitante (apenas 1% dos brasileiros foram vacinados), sem continuidade do auxílio emergencial e com uma perspectiva que isso coloque ao menos 63 milhões de pessoas na pobreza e 20 milhões na pobreza extrema. Com uma popularidade em declínio, o “centrão” cobrará mais caro pelo seu apoio. Inclusive, vale lembrar do impeachment de Dilma, que tinha este mesmo grupo de parlamentares como base de seu governo e teve seu apoio facilmente rifado a partir da mudança dos interesses da burguesia.
Tentamos impedir a eleição de ambos. Fomos vencidos num espaço que restringe a nossa atuação, diante das regras do jogo parlamentar burguês. A partir de uma estratégia que temos que estar em todos os espaços e com que estiver disposto a lutar contra o bolsonarismo, lá continuaremos firmes enquanto oposição, mas sem ilusões de que o nosso espaço central é a luta nas ruas. Apenas nelas podemos impor derrotas em Bolsonaro e corrigir as distorções da democracia liberal. O presidente ganha fôlego, o qual podemos e devemos retirar, enquanto aqueles que pretendem ser a vanguarda na construção de uma alternativa de esquerda radical e independente.
Para isso, a construção desses espaços de mobilização passa pela organização de Brigadas pela Vacinação, conscientizando a população sobre a necessidade da imunização, e pelo Seminário Nacional do Movimento Estudantil, que ocorrerá nos dias 19 e 20, como um momento para retomarmos as lutas dos estudantes. Isso tudo sempre canalizando nos atos pelo Fora Bolsonaro, como no próximo dia 21 de fevereiro.
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