Tod@s às ruas para vencer outra vez!

Tod@s às ruas para vencer outra vez!

Nos últimos dias tive a oportunidade de participar pessoalmente da luta pela redução do valor da passagem em São Paulo. Primeira certeza que pude ter ao chegar: o motivo não são apenas os 0,20 centavos de aumento.

Nathália Bittencurt 19 jun 2013, 10:35

* Nathi Bittencurt

Nos últimos dias tive a oportunidade de participar pessoalmente da luta pela redução do valor da passagem em São Paulo. Primeira certeza que pude ter ao chegar: o motivo não são apenas os 0,20 centavos de aumento.

Ainda na quarta-feira cedo pela manhã, conversei rapidamente com um senhor que aguardava comigo um ônibus. Ele reclamava da qualidade e da demora do transporte. Salientando que era isento da tarifa, lembrou que agora “tem uma gente querendo baixar a passagem”. Exploravam o “vandalismo” do protesto de terça-feira, e exigiam ofensiva das “autoridades” e da polícia: acabem com isso. Tirem as 10 mil pessoas das ruas e tragam de volta a ordem.

movimento

Na USP, pude conversar com diversos estudantes. Muitos já participavam dos atos, outros estavam apreensivos em participar visto o show de horror exposto no principais canais de televisão. Pela cidade estavam agendados vários atos descentralizados, espalhados pelos bairros. O sentimento era de preparação para o grande ato de quinta-feira, um dia decisivo para o movimento em São Paulo e em todo Brasil. Levei um pouco da experiência do Juntos! no processo vitorioso de redução da passagem de Porto Alegre, onde a cada ato mais pessoas se somavam e fortaleciam o respeito às pautas do movimento. Este é um dos principais desafios: furar o bloqueio do que é noticiado e da crescente repressão policial.

As palavras de Haddad, Eduardo Cardozo e Alckmin davam a cada entrevista mais fôlego para ir às ruas. A criminalização dos lutadores e a reafirmação de que a passagem não seria reduzida indignavam o movimento.

Quinta-feira amanheceu tensa. Várias entidades e coletivos concentravam seus esforços e chamavam para o ato em frente ao Teatro Municipal. Aos poucos chegavam as faixas, bandeiras e instrumentos musicais. Naquele momento também em várias cidades do país se reuniam pessoas em sintonia conosco. Porto Alegre era o exemplo a ser seguido: a luta construída durante meses havia conquistado a redução da tarifa, assim como logo depois Goiânia.

Concentração do ato em frente ao Teatro de São Paulo, 14 de junho

Concentração do ato em frente ao Teatro de São Paulo, 14 de junho

Fomos 15 mil indignados pela precarização do serviço do transporte público de ônibus, do metrô, do trem, lutando pelo direito de mostrar seu cartaz na rua, de gritar juntos. Enfrentamos uma repressão poucas vezes vista nesta era “democrática”, com a violência da Polícia Militar que não poupou ninguém. As bombas de gás lacrimogêneo e os tiros de borracha cercando manifestantes e atingindo usuários de ônibus enquanto estavam dentro de veículos  foram o centro de todas as manchetes da noite.

Horas depois, chegavam notícias de atos em solidariedade à mobilização de São Paulo que aconteceriam em diversas cidades do Brasil e também do mundo. Lugares onde o aumento já havia ocorrido, onde sequer haveria aumento, onde simplesmente se queria apoiar as manifestações de São Paulo.

A indignação saiu de casa para tomar as ruas e as redes. Os exemplos internacionais deste novo tempo iniciaram em 2010, quando na Tunísia um jovem sem trabalho, sem futuro e sem medo ateou fogo em seu próprio corpo, expondo as contradições do mundo ditatorial Árabe. Os ventos passaram com força na Europa, no Chile, nos Estados Unidos. São tempos de revindicações democráticas e diversas que anunciam a voz dos 99%. A luta de Porto Alegre que denunciou a ausência de licitação no serviço de transporte público, os critérios para aumento da tarifa e a péssima situação da mobilidade urbana também faz parte destes novos ventos. A vitória conquistada fez reverberar a certeza de que é possível conquistar a com luta do povo. 10 mil pessoas nas ruas juntamente com a Ação Cautelar dos vereadores Pedro Ruas e Fernanda Melchionna do PSOL barrou o aumento da tarifa e tornou o feito um exemplo a ser seguido pelo país.

Em São Paulo e no Brasil se respiram novos ares. Nada está como da forma como encontrei quarta-feira passada. A expectativa para o ato do dia 20 de junho é enorme, a continuação de uma nova etapa para a história da juventude brasileira. Desculpem o transtorno, estamos construindo um outro futuro. Vamos tod@s às ruas para vencer, outra vez.

* Nathi Bittencurt é Coordenadora Geral do DCE da UFRGS, militante do Juntos! RS e estudante de jornalismo.


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