O caso Edward Snowden
Ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana, o administrador de sistemas Edward Snowden sofre intensa perseguição por parte do governo Obama.
“A NSA faz todo tipo de coisa, tipo hackear empresas chinesas de celular para roubar todos os dados das suas mensagens SMS.” (Edward Snowden)
Ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana, o administrador de sistemas Edward Snowden sofre intensa perseguição por parte do governo Obama. No início de junho, ele revelou a Glenn Greenwald, do jornal The Guardian, uma série de informações sobre programas secretos de inteligência, incluindo a interceptação dos metadados de chamadas telefônicas nos EUA e na Europa e os programas de vigilância na Internet PRISM e Tempora.
Os vazamentos de Snowden confirmaram as suspeitas de que a espionagem da NSA sobre cidadãos dos EUA e de todo o planeta é muito mais intrusiva do que se tinha conhecimento.
Prevendo que teria problemas legais se revelasse essas informações em solo americano, Snowden tirou férias pouco antes dos vazamentos e viajou para Hong Kong, onde se escondeu desde então.
Acusado [ironicamente] de espionagem pelo governo dos EUA, teve seu passaporte (americano) revogado no último domingo (23 de junho). Nesse mesmo dia, voou para Moscou acompanhado de Sarah Harrison, assessora legal britânica do WikiLeaks e de Julian Assange.
Segunda-feira, o ministro de relações exteriores do Equador, Ricardo Patiño afirmou em coletiva de imprensa que o país recebeu pedido de asilo de Snowden. Deu a entender que o asilo poderia ser concedido ao declarar que “o caso diz respeito à liberdade de expressão e à segurança dos cidadãos no mundo”.
A escolha não foi por acaso. O governo de Rafael Correa, conhecido pelo seu discurso anti-imperialista, protagonizou outro episódio semelhante no ano passado. Julian Assange se refugiou na embaixada do Equador em Londres no dia 19 de junho de 2012 e o país concedeu-lhe asilo cerca de dois meses depois. Assange completou um ano refugiado na embaixada na semana passada e o caso segue sem solução, já que o Reino Unido não garante o salvo conduto necessário para Assange sair da embaixada para voar para o Equador.
Neste momento, Snowden se encontra na zona de trânsito internacional do aeroporto de Moscou. O governo americano insiste que ele seja extraditado, mas o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não tem motivos para extraditá-lo. Ele afirmou que Snowden é um homem livre, não cometeu nenhum crime e por isso a Rússia não vai fazer nada além de esperar que ele escolha seu destino final.
Para a imprensa americana, os Estados Unidos estão sendo humilhados na caça por Snowden. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, avisou que China e Rússia poderiam sofrer “consequências” por não extraditá-lo, sem entrar em detalhes de quais seriam.
Enquanto aguarda resposta do pedido de asilo do Equador, especula-se que o ex-agente possa viajar nos próximos dias à Cuba ou à Venezuela.
Se por alguns Edward Snowden é visto como um criminoso, por muitos outros ele é visto como herói. Daniel Ellsberg, que vazou os Papéis do Pentágono em 1971 e é um dos principais apoiadores de Bradley Manning, afirmou em entrevista que Snowden agiu com coragem e prestou um serviço “incalculável” para o seu país vazando informações que podem evitar que os Estados Unidos se tornem um estado de vigilância.
De fato, logo após os vazamentos, as vendas de 1984, de George Orwell, aumentaram quase 7000% em apenas um dia na Amazon. Além disso, as informações divulgadas por Snowden tiveram grande impacto mundial e o ex-agente se tornou símbolo contra o controle e a vigilância da Internet no mundo todo.
Estamos com Assange, Manning e Snowden pelo direito de saber a verdade.
* Tiago Madeira é estudante de Ciência da Computação na USP e militante do Juntos!