10 anos, Coletivo Juntos!

10 anos, Coletivo Juntos!

Neste texto, Bruna Porciúncula reconstitui esta trajetória de uma década da juventude indignada, relembrando as lutas em que o Juntos! esteve e entrevistando suas principais lideranças.

Bruna Porciúncula 28 jul 2021, 14:07

A luta anticapitalista da juventude pede passagem

Em 2011, o silêncio da juventude brasileira já parecia constrangido em meio aos movimentos que desacomodavam jovens mundo afora. No Oriente Médio e norte da África, protestos e revoltas levaram a população de pelo menos 10 países às ruas, num levante por melhores condições sociais e econômicas e contra o poder de ditadores, como Muammar Kadhafi, na Líbia, e Hosni Mubarak, no Egito. Era a Primavera Árabe, cujo estopim foi a morte de um jovem vendedor de rua da Tunísia que ateou fogo ao próprio corpo em um ato extremo de indignação pelos constantes achaques da polícia e do governo. Na Espanha, os indignados cortaram a frente da campanha eleitoral daquele ano e colocaram o debate político na Porta do Sol e em outras tantas praças mais que replicavam o descontentamento geral. Espiando no quintal de seus vizinhos, os jovens do Brasil também viam universitários e secundaristas chilenos sacudirem o país reivindicando educação pública e de qualidade.

Cresceu, então, um sentimento de desconforto com a letargia que paralisava inclusive as históricas representações estudantis, como UNE, frente aos governos de esquerda do Brasil e nos Estados. Um ano antes, em São Paulo, o Coletivo Romper o Dia tentava fazer um trabalho estudantil, mas ainda muito restrito ao meio universitário. A juventude paulista, especialmente aquela ligada à Universidade de São Paulo (USP) e a cursinhos pré-vestibulares populares, percebia a necessidade de avançar.

 No Chile, a Revolta dos Pingüins, que envolvia a luta dos estudantes secundaristas, demonstrava que era preciso envolver a juventude não só na faixa etária universitária. Precisávamos romper os muros da universidade e ter um trabalho unificado – lembra Nathalie Drumond, 34 anos, à época estudante da USP.

Num período em que as redes sociais não tinham o protagonismo de hoje, o jornal impresso foi o meio escolhido para convergir e sintetizar as ideias que inquietavam parte dos jovens no começo da segunda década dos anos 2000. A proposta reuniria anseios de uma juventude que buscava unidade na diversidade, intimidade com as lutas – e com as ruas também – e leitura internacional de movimentos e momentos políticos e sociais. Juntos! foi o nome escolhido para a publicação e, no congresso da UNE de 2011, em Goiânia (GO), o jornal, cuja tiragem ficava em torno de mil exemplares, foi na bagagem da turma de São Paulo com outro significado. Essa experiência deveria ser nacionalizada, e grupos do Rio Grande do Sul, do Pará, do Rio de Janeiro, de Brasília e de Estados do Nordeste já se mobilizavam neste sentido.

2011: Manifesto do 1° Encontro Nacional do Juntos
2011: I Encontro Nacional do Juntos!

Duas semanas antes do congresso, essa organização transpareceu na Marcha da Liberdade, em que parte dessa juventude tomou para si a missão de responder à repressão policial ocorrida dias antes contra participantes da Marcha da Maconha, em São Paulo. Ficou também evidente a rua como dogma. Um dia antes do início oficial daquele Congresso da UNE, em 15 de julho, cerca de 300 estudantes do país transformariam o jornal alternativo em um movimento nacional da juventude, o Coletivo Juntos!. A indignação começava a ser organizada.

– A oposição às ideias de meritocracia e competição dos anos 1990, de crítica ao individualismo, tinha de aparecer já no nome. Era preciso trazer essa unidade na luta e não uma luta de forma individual. Qual a melhor forma de se fazer uma luta se não juntos? Isso tudo sai do jornal para se transformar numa coluna de jovens – explica Israel Dutra, secretário de Relações Internacionais do PSOL, dirigente do Movimento Esquerda Socialista (MES) e um dos fundadores do coletivo ao lado de militantes como Nathalie Drumond, Maurício Costa e Giulia Tadini, entre outros.

A identificação nas tradições ideológicas do MES está nas bases do Juntos!, o que não significa falta de autonomia na gerência de seus passos. Pelo contrário. É, em certa medida, o alinhamento a essas ideias que sustenta a defesa de uma juventude cada vez mais ampla, diversificada e conectada com os setores mais proletários da sociedade, somando-se a suas demandas e reivindicações e sempre olhando para o mundo. Júlio Câmara, 28 anos, estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), esteve no encontro de fundação do movimento em Goiânia. Era um secundarista e buscava, sem sucesso, apoio para organizar o grêmio estudantil de onde cursava o Ensino Médio, a Escola Estadual Infante Dom Henrique, em Porto Alegre. Havia, na avaliação dele, uma ilusória sensação de bem-estar mesmo frente a uma crise ganhando cada vez mais corpo. Isso tinha muito a ver com a influência de forças ligadas aos governos dentro das entidades estudantis.

A criação do Juntos! foi um caminho aberto para que jovens pudessem dizer, sem constrangimentos, que as coisas não estavam tão bem assim e que, além das fronteiras, havia gritos de luta carecendo de ressonância no Brasil.

– O Juntos! nasceu bastante conectado com essas manifestações mundiais porque a gente tinha uma leitura de que a crise econômica ganhava contornos de crise política. A contestação  ao regime era crescente, tanto que as manifestações traziam muito aquela palavra de ordem  “democracia real”, questionando uma certa democracia fajuta, que, em muitos lugares, era sustentada por partidos até então compreendidos de esquerda, como era o caso do Brasil com as experiências petistas. A gente entendeu que essa situação era mais profunda. Agora, a gente segue um aprofundamento. A  crise pandêmica é mais uma etapa dessa crise respostas seguem altivas – explica Camila Souza, cientista social integrante do Grupo de Trabalho Nacional do coletivo.

– O Juntos! se apresentou como uma novidade e muito vinculado aos movimentos que estavam ocorrendo em outros lugares. Foi o embaixador dessas lutas aqui. Foi um belo começo – resume Júlio.

No outro Rio Grande, o do Norte, percebia-se a mesma carência, e a possibilidade de ordenar uma juventude mais ativa, mobilizada – e por que não radicalizada – também encontraria terreno. Em um estado de hegemonia petista, jovens ligados ao PSOL organizaram às pressas e sem muita programação um encontro dos estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal, com Luciana Genro, candidata do partido à Presidência da República naquelas eleições de 2014. Reuniram 500 participantes sem muito esforço. Pouco? Não, considerando-se que as assembleias do diretório de estudantes com maior público conseguiam em torno de mil ouvintes.

18/11/2014: Luciana Genro discursa para mais de 500 jovens no Centro de Convivência da UFRN

– Não tinha nem cadeiras para as pessoas sentarem, mas ali ficou claro que havia entrada para as nossas ideias – conta Camila Barbosa, 25 anos, liderança do Juntos! potiguar eleita há poucos dias como uma das diretoras da UNE.

Daquela experiência durante a campanha de Luciana Genro vingou o desejo de se organizar melhor para uma reeducação política dos jovens, em parte ressentidos com a institucionalização e burocratização de lideranças sob o guarda-chuva dos governos do PT. Ganhou-se primeiramente a coordenação do DCE da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), mais interiorizada, e depois o da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde o diretório ainda está nas mãos do Juntos! em razão de as eleições terem sido adiadas por conta da pandemia.

A construção dessa juventude no RN não se dá sem intermitências, mas a ousadia dos que persistiram – e persistem – já rende frutos em outros estados do Nordeste, como Bahia, Ceará, Pernambuco, Sergipe e Paraíba. O comportamento eleitoral da região, de não ter sido celeiro de votos para Jair Bolsonaro, é um diferencial, não necessariamente um facilitador.

– É uma região fundamental porque tem uma experiência política diferente, de não ter apoiado Bolsonaro, mas não quer dizer que seja uma experiência progressista. Há uma relação quase afetiva com o PT. Isso, de alguma forma, desmobiliza, coloca uma trava. Nós queremos uma reeducação política, despertar a juventude para uma nova esquerda e que essa experiência no nordeste não seja só numerosa, mas qualitativa – diz Camila Barbosa.

2013: I Assembleia do Juntos! Nordeste

Luta feminista e as Jornadas de Junho/2013

Em 10 anos de atuação, o Juntos! credenciou-se com força para ser o principal movimento de juventude da esquerda brasileira. Amadurece o espírito revolucionário sem perder os elos com os princípios de sua fundação e amplia, ano a ano, seus braços setoriais em lutas como a da população LGBTQI+, dos negros, dos povos indígenas, da descriminalização da maconha e das mulheres, tema cujo ascenso fundamentou a criação do Juntas!, coletivo feminista, antirrascista e anticapitalista que foi gestado não sob a falta de equidade na participação de homens e mulheres no movimento, mas pelo papel  essencial das gurias na construção dele. Se olhar para os quadros formados no coletivo, despontam muitos nomes femininos, como as deputadas federais Fernanda Melchionna (PSOL/RS), Sâmia Bonfim (PSOL/SP) e Vivi Reis (PSOL/PA) e a vereadora de São Paulo Luana Alves (PSOL).  

2013: Sâmia Bomfim nas Jornadas de Junho

Nos eventos mais importantes em que o Juntos! esteve presente, não raro as mulheres assumiram as posições de comando. No Pará, a Primavera Feminista de 2015, que seria o prelúdio do movimento #elenão, foi estrondosa em Belém e catapultou nomes como o de Vivi Reis, entre outras mulheres ligadas à causa ambiental, indígena e quilombola. Com a força feminina,  a juventude paraense promoveu atos e caravanas até Altamira contra a construção da Usina de Belo Monte e atuou diretamente junto ao deputado estadual Edmilson Rodrigues (PSOL) para que fosse instalada, na Assembleia Legislativa do Pará, a CPI das Milícias, investigação sobre possíveis grupos de extermínio na periferia de Belém desencadeada depois que 10 jovens foram assassinados em um bairro pobre da cidade.

– Sempre fomos uma juventude negra no Pará, mas agora de forma organizada. Nossa pauta sempre esteve nas questões dos quilombolas e ambientais, mas a verdade é que os nossos principais quadros sempre saíram do movimento das mulheres – analisa Adriano Mendes, estudante de Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA) e diretor de Juventude do MES no estado.

No embrião das jornadas de junho de 2013, os protestos contra o aumento da passagem de ônibus em Porto Alegre no começo do ano letivo de 2013, as mulheres também foram destaque. Gabrielle Tolotti e Camila Goulart foram representantes do coletivo no Bloco de Lutas, que reunia diversos movimentos na organização das manifestações que tomaram as ruas da capital do Rio Grande do Sul. Pela primeira vez, aquela geração de estudantes vivia o cenário de lutas que só conhecia por meio dos livros de história.

– Foi a maior mobilização desde as Diretas Já, e as pessoas descobriram a força que têm quando estão mobilizadas de forma organizada e conjunta. Foi extraordinário, porque pela primeira vez a gente viu muitas mulheres na linha de frente da luta – orgulha-se Camila Goulart, à época integrante do DCE da Faculdade Porto-Alegrense (Fapa).

2013: Porto Alegre inspira mais capitais com atos contra o aumento da passagem

Os atos foram massificados e se traduziram numa vitória na Justiça contra o reajuste da tarifa. A conquista poderia jogar essa moçada para o conforto das discussões nas redes sociais, àquela altura bem mais populares do que em 2011. No entanto, na esteira do que se viu em Porto Alegre, a juventude de São Paulo aprofundou o debate sobre o transporte público e também  levou a pauta do aumento da passagem para o meio da rua. A repressão da PM paulista sob o comando de Geraldo Alckmin (PSDB), que ocupava o Palácio dos Bandeirantes, e diante de olhos e ouvidos de mercador do então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) fez com que os gaúchos voltassem às ruas em solidariedades aos paulistas e ainda animou o movimento da juventude em outras capitais, numa onda nacional de protestos que rasgou o discurso de bem-estar e deixou vinte centavos de troco para quem se recusava a compreender o que acontecia em praça pública. As chamadas Jornada de Junho de 2013 foram um momento histórico na luta estudantil e na consolidação do Juntos! e de um de seus princípios norteadores, o da luta coletiva. Naquele momento, o movimento deixou claro a que veio.

Asilo para Snowden

Junho de 2013, avalia Nathalie Drumond, extrapolou as melhores previsões do movimento e se tornou um divisor de águas, sobretudo quando se almeja uma juventude que protagonize transformações profundas na sociedade. Foi balizador de mudanças estratégicas na atuação da esquerda mais revolucionária do país.

– As ideias que forjaram o coletivo não nasceram conosco, mas a gente soube adaptá-las.
 O Juntos! foi muito pioneiro no Brasil na síntese entre forma e conteúdo desse novo processo de rebelião mundial de contestação ao capitalismo. A gente estava muito conectado e conseguiu traduzir bem isso para o Brasil, até pela própria ideia de unidade na diversidade, de conectar as lutas. No Juntos!, todas essas lutas se encontram – reforça Camila Souza.

Seguindo o curso dos acontecimentos com atenção, o Juntos! combinou formação da militância com ação efetiva na vida política do país e fora dele. Na sequência dos meses efervescentes de 2013, promoveu um acampamento nos arredores de Buenos Aires para estreitar laços com as demandas da juventude latino-americana. No ano seguinte, foi infantaria na campanha de Luciana Genro à presidência da República e, ao mesmo tempo, lançou-se como baluarte brasileiro de Edward Snowden, analista de sistemas norte-americano que revelou ao mundo os esquemas de espionagem global da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês). O movimento empenhou-se de tal forma pela concessão de asilo político a Snowden que conseguiu abarcar mais de um milhão de assinaturas de apoio em um abaixo-assinado entregue à ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2014. A solidariedade da juventude do Juntos! foi retribuída em 2017, em mais um acampamento da militância, desta vez, na zona portuária do Rio de Janeiro. O próprio Snowden participou de um dos painéis do encontro, por meio de uma transmissão ao vivo direto da Rússia, país que lhe concedera abrigo temporário.  Essa ousadia internacionalista foi possível com a ajuda do jornalista Glenn Greenwald, marido do deputado David Miranda (PSOL/RJ), outra liderança forjada nas trincheiras do Juntos!, para quem Snowden revelou ao mundo os programas secretos da NSA.

2014: Juntos! promove campanha nacional pelo asilo de Edward Snowden no Brasil

– Foi um pouco de loucura, fechar o nome dele em cima da hora, e o acampamento era em um galpão sem internet. Saímos para comprar chips de todas as operadoras para garantir que desse certo. Creio que foi o primeiro evento que o Snowden participou no Brasil, mesmo que por vídeo-conferência. A luta pelo asilo foi uma das mais importantes que o Juntos! fez em 2017 – conta Tiago Madeira, cientista da computação e militante.

2017: Edward Snowden participa do Acampamento Internacional das Juventudes em Luta

Além de Snowden, o acampamento no Rio de Janeiro seria marcado pela participação de Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em 2018 que se tornou símbolo da luta feminista e pelos direitos humanos e das minorias, e pela presença pioneira no Brasil de integrantes do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) vindos dos Estados Unidos. A diversidade de lutas também já era um dogma.

2017: Marielle Franco participa do Acampamento Internacional das Juventudes em Luta
2020: ato em Natal/RN por justiça para João Alberto Silveira Freitas (jovem negro assassinado por seguranças do Carrefour em Porto Alegre)

Defesa da educação e Fora Bolsonaro!

Se a juventude brasileira não pode fechar os olhos para o que sacode o mundo, tampouco pode descansar a vista nas ameaças que a circundam. Em 2016, a crise política que provocaria o impeachment de Dilma Rousseff embalava o avanço da extrema direita e projetos que atacavam diretamente os estudantes. Em São Paulo, no final de 2015, os secundaristas ocuparam as escolas para evitar que o governo Alckmin levasse a cabo uma reestruturação da rede de ensino que, na  prática, significava o fechamento de mais de 90 instituições estaduais, afetando quase 400 mil alunos da Educação Básica. No Rio Grande do Sul, os protestos se reproduziram sob a exigência de mais recursos para as escolas. Pais e alunos se mudaram de mala e cuia para salas de aulas e ginásios, fazendo as instituições de ensino a morada real das reivindicações. E nesse cenário, os militantes do Juntos! despontaram como lideranças dessas mobilizações.

– Nós não tínhamos respostas da Secretaria Estadual de Educação sobre o quadro de professores, nem sobre as reformas. Copiamos São Paulo. Fizemos assembleias e em um domingo ocupamos as escolas mais centrais de Porto Alegre. Em uma semana, já havia mais de cem ocupadas. E tudo numa organização coletiva, sem adultos. Era uma luta para mostrar qual educação a gente queria – relembra Ana Paula de Souza dos Santos, atualmente coordenadora do DCE da UFRGS.

O movimento de ocupação de escolas reverberou pelo país (em especial no Rio) e ganhou a versão universitária quando Michel Temer anunciou a PEC 55 que congelou gastos por 20 anos e ampliou um período de agonia de recursos na educação. Mais de mil universidades foram ocupadas. A ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República, em 2018, impôs ao movimento estudantil um desafio ainda maior. O governo do capitão inepto recrudesceu os ataques à educação, adicionando aos alvos pautas sensíveis ao movimento, como a defesa dos Direitos Humanos e a valorização da pesquisa científica e das ações afirmativas nas universidades. A resposta da juventude veio na retomada das ruas em 2019, com as manifestações conhecidas como o 15M e o 30M, em referências às datas de maio daquele ano. A militância do Juntos! e de seus braços setoriais, com intimidade neste tipo de convocação da população, postulou-se como um dos principais articuladores dessas mobilizações e, mesmo durante a pandemia de covid-19, manteve uma atuação resistente nas lutas mais prementes, como a do Fora Bolsonaro!. Em 2021, no Rio de janeiro, as passeatas puxadas pelos estudantes da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ) não permitiram que a crise sanitária silenciasse as ruas. A pandemia e suas conseqüências só ampliaram as razões para reocupá-las. E o Juntos! estava lá.

– A gente luta muito pelo direito à escola, à universidade, pelo direito de estudar. Mas, a partir disso, começa a impulsionar outras lutas que se conectam. É a juventude na linha de frente na luta ambiental , na luta feminista, na luta antirracista e na renovação do mundo do trabalho e dos sindicatos. Há esse processo de encontros e desencontros, mas desencontros que promovem novos encontros e ressignificam esses encontros. Acho que a juventude está em um processo de ascenso desde 2018, do qual deve tirar lições. Há o desgaste de um projeto e o nascimento de um novo, mas nunca é um nascimento simples ou datado. Desde então, temos mobilizações e lutas que estão dando os contornos dessa unidade gênero-raça-classe e do dinamismo, do ativismo, do maior engajamento e da maior radicalidade que marcam a chama da nossa esperança de que as gerações que estão vindo são mais imponentes e mais corajosas para levar adiante as nossas lutas – diz Camila Souza.

2016: Camila Souza, da Coordenação Nacional do Juntos, no ato contra a PEC do Fim do Mundo em Brasília

No cintilar das celebrações de seus 10 anos de lutas, o coletivo que nasceu a partir da confluência de ideias revolucionárias e anticapitalistas, resumidas em um jornal impresso, lança mão da tecnologia para consolidar essas e outras lutas entre a geração que sucede aquela que o almejou e fundou. Entre os desafios que se impõem daqui para a frente estão reforçar as atenções às demandas da juventude que não está nas universidades, mas nas escolas públicas desestruturadas,  no mercado de trabalho precarizado e nas comunidades sem voz e formar esses jovens para liderar as lutas em seus territórios, respondendo a seus desafios. Nessa infância amadurecida, o movimento espalhou seus domínios para mais de 15 Estados e comemora a eleição, dias atrás, das militantes Fabi Amorim, do Rio de janeiro, Tarsila Amoras, do Pará, e Camila Barbosa, do Rio Grande do Norte, como diretoras do Juntos! na União Nacional dos Estudantes (UNE). O trabalho não pode parar nem nas ruas, nem longe delas. A próxima década vai ser maior.

24J: ato pelo Fora Bolsonaro em Porto Alegre

Texto originalmente publicado na Revista Movimento.


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